O líder do MPLA, partido no poder em Angola há 46 anos, disse hoje em Menongue, província do Cuando Cubango, que o país tem uma oposição liderada por um partido “com uma agenda política clara de atingir o poder a qualquer preço”. O Titular do Poder Executivo, João Lourenço, bem como o Presidente da República (João Lourenço) e o Comandante-em-Chefe das Forças Armadas (João de Lourenço) estão também de acordo…
“Mesmo que para isso tenha de desrespeitar a Constituição da República, a lei e todos os princípios nos quais assenta o Estado democrático de direito”, acrescentou João Lourenço, sem citar o nome da força política, quando procedia hoje ao lançamento da cesta básica de promessas eleitorais (Agenda Política) do MPLA para 2022.
Em Angola, a principal força política da oposição que o MPLA ainda permite, é a UNITA, liderada por Adalberto da Costa Júnior, um cidadão que o MPLA não considera ser angolano. Aliás, angolanos propriamente ditos, puros, só são os do MPLA.
O também dono disto tudo frisou que, passados 20 anos do fim do conflito armado, o MPLA tem “a obrigação de tudo fazer para que não haja mais destruições de infra-estruturas, de património e de vidas humanas por motivações político-partidárias”.
“Ao MPLA cabe a responsabilidade de continuar a trabalhar para mais uma vez merecer a confiança dos eleitores nas urnas, para continuarmos a realizar nosso projecto de Nação”, disse João Lourenço, pouco importando com que “farda” estava vestido..
Para servir melhor o país no próximo mandato, continuou João Lourenço, o MPLA reitera na sua Agenda Política de 2022 o compromisso de continuar permanentemente a construir. Pelo ADN do partido, construído à imagem do seu único herói nacional, Agostinho Neto, responsável pelo assassinato de milhares e milhares de angolanos nos massacres de 27 de Maio de 1977, é fácil compreender o que o MPLA quer… construir.
“Ao longo do mandato que está prestes a chegar ao fim, o MPLA, através do Executivo que dirige, conseguiu promover muitas realizações em prol do desenvolvimento económico e social do país”, afirmou. Mudança de corruptos, 20 milhões de pobres, supermercados de acesso livre e gratuito (lixeiras), mortalidade infantil e malária são apenas alguns exemplos “do desenvolvimento económico e social do país”.
O líder do MPLA citou entre os compromissos para este ano a continuidade da luta contra a corrupção (substituição dos que eram marimbondos pelos que passaram a ser caranguejos) e a impunidade, bem como a criação de um bom ambiente de negócios, a reforma política, a reforma administrativa, a reforma económica, a construção de importantes infra-estruturas sociais, entre outras. Ou seja, o paraíso está mesmo a chegar. Talvez chegue quando o MPLA comemorar 100 anos de governação ininterrupta. Já só faltam 54 anos.
João Lourenço até promete, para além de “continuar a construir a paz e a reconciliação nacional”, continuar a construir o que não existe: o Estado Democrático de Direito. A isso junta o que foi copiar aos discursos do seu mentor (que, entretanto, apunhalou pelas costas), José Eduardo dos Santos: “Economia de mercado, apostando na sua diversificação e tendo como actor principal os agentes económicos privados; continuar a criar mais postos de trabalho (tinha, em 2017, prometido criar 500 mil), maior oferta de serviços públicos de saúde, educação, habitação, água, energia e saneamento, continuar a edificar mais infra-estruturas públicas que sejam importantes para o desenvolvimento do país”.
João Lourenço admitiu ainda que é preciso trabalharem “o suficiente” (como se alguma vez tivesses trabalhado para além do próprio umbigo) para terem a garantia de que todos os militantes, simpatizantes e amigos do partido “vão exercer o direito de voto e trazer consigo outros cidadãos da sua família e do bairro a votar também no MPLA”.
“Não podemos ficar fechados em nós próprios, precisamos de atrair o voto dos indecisos, dos cidadãos sem partido e até dos militantes de outros partidos políticos que estão desencantados com suas práticas nada democráticas”, referiu João Lourenço, certamente convicto de que, como no passado, até os mortos vão ressuscitar e votar no… MPLA..
“Para isso, temos de sair à rua, ir ao encontro da sociedade civil, das igrejas, das organizações não-governamentais, dos jovens, das mulheres, dos estudantes, dos académicos, dos fazedores de cultura, dos desportistas, dos trabalhadores, dos empreendedores, dos empregadores, dos antigos combatentes, enfim, de todos os angolanos”, enfatizou.
Elogio em boca própria para enganar matumbos
No dia 23 de Setembro de 2019, o Presidente João Lourenço destacou o “esforço de mudança” em Angola, através do qual esperava colocar o país “no mesmo patamar em que se encontram as nações empenhadas em promover o seu sucesso”. Há 46 anos que o MPLA promete a mesma coisa. O melhor mesmo é esperar mais 54 anos…
“Está a realizar-se em Angola, com a participação de políticos, da sociedade civil, da população em geral e do executivo, um esforço de mudança por via do qual pretendemos colocar o país, tão rapidamente quanto possível, no mesmo patamar em que se encontram as nações empenhadas em promover o progresso, o desenvolvimento e o bem-estar dos seus povos, através de boas práticas de governação”, afirmou o chefe de Estado no Conselho de Relações Exteriores dos Estados Unidos, em Nova Iorque.
Foi mais um enorme chorrilho de mentiras. No caso não foi para inglês ver mas para norte-americano ver. Foi, aliás, uma boa estratégia. Tendo, na altura, os EUA um presidente que para contar até 12 tinha de se descalçar ou pedir ajuda aos homólogos ucraniano, Volodymyr Zelensky, ou brasileiro, Jair Bolsonaro, está tudo dito.
Mas, na verdade, quando o Presidente do MPLA diz que com a mudança conta com participação de políticos, da sociedade civil e da população em geral está a mentir descaradamente. João Lourenço só conta com os políticos do MPLA, com a sociedade civil do MPLA, com a população do MPLA, com a Polícia do MPLA, com os tribunais do MPLA.
João Lourenço considerou que há “resultados significativos no processo de transformação do país”, mas assumiu que havia “um défice de conhecimento” pelos norte-americanos do programa realizado pelo seu Governo. Havia, com certeza. Desde logo porque Donald Trump pensava (isto é como quem diz) que todos os angolanos são aquilo que João Lourenço pensa dos angolanos que não são do MPLA. Ou seja, que somos um bando de matumbos.
Nesse sentido, o Presidente João Lourenço acreditava que a visita aos Estados Unidos “era uma oportunidade soberana para colmatar esse défice” e para falar sobre as medidas que o seu executivo estava (dizia que estava) a adoptar para “superar alguns vícios do passado”, dos quais (isso ele não diz) ele próprio foi actor e beneficiário activo.
“Estamos a implementar um conjunto de medidas que se inscrevem num plano do executivo sobre o desenvolvimento de Angola, que assenta em alguns eixos fundamentais como o desenvolvimento económico sustentável, a boa governação, a integração regional e internacional, o desenvolvimento das infra-estruturas”, referiu João Lourenço, que nessa semana cumpria dois anos na liderança de Angola.
O “copy paste” é cada vez mais um método utilizado prolixamente pelo MPLA. O que ele diz que está a fazer, ou que quer fazer, ou que um dia alguém terá de fazer, é apenas uma cópia do que é dito pelos países mais desenvolvidos, seriamente governados, democráticos e que são (ao contrário de Angola) um verdadeiro Estado de Direito.
“Para a sua concretização, torna-se necessário atrair investimento estrangeiro para a nossa economia, a fim de a diversificar, aumentar a nossa produção interna e assegurar assim o aumento das exportações de bens diversos”, concluiu o Presidente angolano.
João Lourenço detalhou as reformas teoricamente adoptadas, incluindo a Lei de Investimento Privado, a introdução do Imposto de Valor Acrescido (IVA) e “um ambicioso programa de privatizações”.
“Essas reformas difíceis, mas necessárias, estão a começar a diminuir o envolvimento do Estado na economia, a aumentar a transparência, a reduzir os riscos fiscais, a diversificar a economia, a gerar desenvolvimento liderado pelo sector privado, numa palavra, a melhorar o ambiente de negócios e investimentos no país”, justificou.
Folha 8 com Lusa